textos sobre artistas


Breno Mattos
por Raul Córdula
texto publicado no catálogo da mostra de Breno Mattos na Galeria José Américo (Theatro Santa Roza), João Pessoa, em 14 de junho de 1968

Muito se fala, atualmente, em um novo renascimento nas artes plásticas. Verifica-se a integração dos meios de comunicação com a arte e deixa de fazer sentido a ideia do quadro dentro das normas técnicas da pintura ou a escultura nos limites meramente formais. Os quadros com relevos e as esculturas pintadas são marcas da Nova Objetividade, por exemplo, e de movimentos artísticos com ela sintonizados como a Pop Art americana ou a Nova Figuração francesa.

Em toda história da arte podemos dividir as tendências artísticas em caóticas ou construtivas, isto é, artistas ligados a uma expressão emocional (paleolítico, barroco, expressionista, abstracionista etc.) ou ao seu oposto racionalista (neolítico, clássico, cubista, concretista etc.), mas sempre alguns fugiram à regra tentando dar ordem ao caos ou caotizar a ordem. Este último procedimento, ao que parece, vigora em nosso tempo de guerra: subverter os valores formais para expressar nosso momento.

As novas esculturas de Breno Mattos se inserem nessa tendência. Utilizando materiais industriais recentes como a chapa de acrílico, ele modela seus volumes rompendo quadrados perfeitos de chapas acrílicas aquecidas, usando cones de madeira, num ato semelhante a um defloramento. Depois, o artista monta as partes defloradas compondo cubos, os quais apresenta nesta exposição pendurados em fios de nylon, suspensos no espaço. Esse é o aspecto mais interessante desta mostra, o momento em que ele usa a matéria e a linguagem moderna ao lado do sentimento instintivo do rompimento. Torna caótica a construção, constrói o caos.

A civilização moderna nos tem dado uma nova imagem do mundo, uma imagem fantástica, geométrica e ampliada. Para alguns artistas, essa imagem tem algo de místico dentro de seu ascetismo de aço e concreto, de sua frieza feita de espaços inúteis e adornos indecifráveis. Os proclamadores dessa nova mística se apropriaram do inútil e revelaram sua beleza estática e interespacial. Para o homem urbano (produto da cidade nua e crua) a beleza é necessária até o ponto em que possa ser consumida e que ele possa participar do banquete. A arte jamais poderá (ou deverá) se desligar de sua abrangência pública, ainda mais hoje quando o aspecto romântico de um atelier é menos importante do que o aspecto amplamente desumano do mundo industrial.

O sentido crítico da arte de hoje não está apenas na sátira ou no humor denunciativo de horrores, mas nos símbolos, nas formas e no espaço público, onde o artista introduz sua marca criando a diferença entre o olhar acomodado e o olhar dinâmico. 


Fábia Lívia de Carvalho
por Dyógenes Chaves
texto publicado no jornal O Norte, em 22 de janeiro de 2006

Feito gente grande, a jovem artista Fábia Lívia de Carvalho, paraibana de João Pessoa, que acaba de chegar ao Brasil para uma curta temporada que mistura suas obrigações pessoais com a concretização de ideais altruístas (sua obstinação) que muito bem poderiam lhe conferir o título de 'embaixadora' das artes plásticas da Paraíba na Suíça, determina seu maior veredito: “Arte não tem tradição, nem rituais e não é repetitiva. A arte é livre para criar, para se expressar, é espontânea, mutante, não tem sexo, não tem fronteiras”. E, indignada, desabafa sobre a atual crise que vivemos no país: “Aqui, a arte parece ser algo longe das necessidades básicas do povo. Porém a fome não se dá apenas no estômago. A fome de espírito também mata. Mata o espírito de uma cultura, mata a alegria de viver e mata a própria identidade. Acho que nós temos um povo maravilhoso, que sabe sorrir, que sabe cantar, dançar, improvisar e ser muito espontâneo, comunicativo, curioso, aberto. O que falta é educação, direção e diretrizes. A educação que o povo recebe vem, principalmente, através da TV e das músicas populares. As músicas dos últimos tempos são, a meu ver, horrorosas. Aliás não são músicas, são outra coisa. A música brasileira assumiu o retrato da bagunça em que se encontra o Brasil. De qualquer modo vale salientar o poder da música. Ela pode condicionar as pessoas a viverem o que ouvem e o que cantam. Inconscientemente, as pessoas passam a acreditar no que repetem e seguem sem diretrizes pela vida afora, apenas sorrindo, cantando, engolindo a cachaça como o peru que morre na véspera e sem saber, vive se enganando com bebida, futebol e sexo. E as mulheres sofrem também como vítimas da falta de educação, informação, da dependência da economia e da boa vontade dos homens”.

Fábia Lívia se envolve com arte desde muito jovem graças ao contato com a mãe, a tia, o irmão, a amiga da mãe... Aqueles trabalhos artesanais lhe marcaram para sempre. Segundo ela, relutou contra a idéia de se tornar artista: “Descobri que não me tornei uma, mas que sempre fui artista em minha essência e não podia escapar de minha sombra, que, paradoxalmente, também é a minha luz interior”. Deixou a Psicologia, o emprego no Bandepe, em Recife e foi procurar uma escola para estudar arte. No Rio de Janeiro, frequentou o MAM, onde estudou (e foi monitora) com os professores Eneas Valle, Gianguido Bonfanti e Ivan Lima. Também teve aulas com José Maria da Cruz, Rubens Gerchman e Gonçalo Ivo. Quando o MAM fechou para reforma, voltou para João Pessoa, montou seu primeiro atelier no Miramar, e começou a participar de salões de arte. Ganhou prêmios (Salão de Novos Artistas Paraibanos, Funesc) e realizou sua primeira exposição na Galeria Metropolitana Aloísio Magalhães, em Recife.

Determinada, pouco tempo depois viajou para a Europa. Foi se radicar na Suíça, onde montou atelier em Basel. Com o apoio imprescindível do consagrado artista Martin Cleis, que se tornou seu companheiro à época, começou a construção de sua trajetória de arte com talento incomum, o que lhe abriu portas e proporcionou novos contatos e espaços. Nesse período, fez muitas exposições pela Europa e Estados Unidos. Foi aí, numa das muitas viagens ao Brasil, que nasceu o projeto de intercâmbio Laboratoire. Como uma ideia fixa de Fábia e contando com o apoio de Cleis, a Fundação Pro Helvetia investiu no encontro de artistas suíços, franceses e brasileiros, que viveram em João Pessoa por sessenta dias uma rara experiência de troca de sentimentos e de ideias, no inverno de 1998. Mas, verdadeira, também assume a dificuldade que foi sua ‘escolha’ pela arte: “Minha trajetória sempre foi de altos e baixos, de dificuldades. Muitas vezes desejei ser um índio na mata, mas descobri que também eles correm perigo de extinção. Trabalhei em outras áreas para sobreviver. Tenho dois currículums, duas vidas, dois países, vivo como ponte entre duas culturas distintas. Isso é muito enriquecedor, mas também desgastante. A arte é quem me alimenta espiritualmente e, junto à minha religiosidade, me dá forças para prosseguir a trajetória”.

Apaixonada pela vida e obra dos artistas alemães Joseph Beuys e Anselm Kieffer, e também do austríaco-brasileiro Franz Krajberg, esta canceriana desenvolve sua atual pesquisa de trabalho utilizando a fotografia em que ela mesma fotografa flores sobre a sua pele (série A flor da pele). Avisa, longe do decorativo, as flores surgem como ser vivo que participa da vida e da morte de todas as pessoas. Ainda em 2006, espera realizar uma exposição com o resultado desta fase, e com a participação de artistas seus amigos. Mas, Fábia Lívia é uma experimentadora de ‘mão cheia’. Trabalha com formas, técnicas e materiais diversos, sempre aqueles mais maleáveis, mais flexíveis, mais naturais, mais leves, mais crus, mais autênticos e próximos da natureza. “Eles ressaltam a fragilidade com que retrato a vida”, diz ela.

Fábia reconhece que há falta de informação e conhecimento sobre a arte contemporânea em nossas plagas, mas que não deve ser vista como arte conceitual, muito menos arte tradicional, é sempre o hoje, o que está se experienciando nos tempos atuais e que nunca se repete, que é único. Para a artista, os principais obstáculos para a aceitação e compreensão da arte contemporânea são, primeiro, o ‘medo’ de mudar e adquirir novos valores, de arriscar em algo até então desconhecido e que se teme não dar certo; e, depois, a ‘comodidade’, já que é mais fácil continuar na mesmice e usar velhas receitas que, supostamente, deram certo.

Em ritmo acelerado de preparação para sua próxima exposição em João Pessoa, junto com os artistas suíços Dadi Wirz e Krassimira Drenska, a acontecer em fevereiro próximo, na Usina Cultural Saelpa, ela fala do futuro, sonhadora e consciente ao mesmo tempo: “Quero dar uma nova forma e direção à minha vida de modo que eu possa me dedicar mais à arte, também que eu possa aprender a tocar um instrumento e voltar a cantar para mim como fazia quando criança, porque na próxima vida eu quero ser cantora de ópera e nascer novamente perto da Mata Atlântica do Brasil (se ela ainda existir).”


Alice Vinagre
por Dyógenes Chaves
texto publicado no jornal O Norte, em 14 de setembro de 2008

Desde o dia 10 de setembro, na Galeria da Usina Cultural Energisa (até 26 de outubro de 2008), a artista plástica Alice Vinagre apresenta a exposição, Anotações sobre pintura, momento em que também lançou o livro Azul – intervenção na arquitetura barroca do Convento de Santo Antonio, com texto de apresentação de Moacir dos Anjos, fotos de Roberto Coura e patrocínio do Fundo Municipal de Cultura da Prefeitura de João Pessoa (FMC - Edição 2006) e da Gráfica Santa Marta.

Sobre a artista e sua produção atual, disse o crítico e curador Moacir dos Anjos: “Desde a década de 1980 Alice Vinagre tem trabalhado no campo impreciso em que desenho e pintura se confundem e se tornam quase coisa única. Por vezes são as superfícies de cor densa que parecem querer ofuscar as linhas nelas superpostas, enfraquecendo, desse modo, a intenção narrativa do desenho; noutras, é o interesse pelas histórias traçadas que afastam o olhar do que foi pintado e faz da pintura apenas fundo. Menos por indecisão da vontade do que por interesse repartido, a artista tem mantido, com continuado vigor ao longo dos anos, a tensão em uma obra que afirma o poder cognitivo do fragmento e que recusa a noção de completude. Tais questões, que são menos locuções da forma plástica que de uma ética de vida, articularam, de modo condensado e potente, a instalação que Alice Vinagre apresentou, em 1998, no Convento de Santo Antônio, construção barroca do século XVIII que integra o Centro Cultural de São Francisco, em João Pessoa.”

E foi a partir desta exposição no Centro Cultural de São Francisco, há dez anos, que surgiu a ideia das “anotações” de Alice hoje na Usina Cultural Energisa. E, ao adentrarmos na galeria tem-se a certeza de que a artista continua sendo umas das mais maduras de sua geração. Ora, o conceito de que uma obra de arte só existe em função de outra obra de arte fez de fato caducar a idéia de representatividade da arte academicista. Se assim é, seria exagero afirmar que o estonteante mosaico com que Alice Vinagre recobriu as paredes desta galeria tem parentesco com a inesquecível visão dos vitrais da Catedral de Chartres? Não seria lícito, pois, também afirmar que estas Anotações sobre pintura de Alice Vinagre poderiam fazer as vezes do necessário bloco de notas para uma aula de desenho, de arquitetura ou de pintura?

Este “papel de parede” integrado por quase duas dezenas de enormes cartões modulares, dispostos sem qualquer sentido cartográfico ou ordem prévia, apresentam configuração variada: ora os desenhos e símbolos dessas composições se combinam em um gigantesco puzzle ora se interrompem antes que aí se possa vislumbrar alguma forma definida. Um ou outro cartão aparentemente inacabado parece aguardar a inserção de mais imagens e símbolos, o que confere ao todo o caráter de work in progress. O azul e o vermelho predominantes na maioria das imagens alternam força, energia e tensão (vermelho) com tranqüilidade, calma e reflexão (azul), em contraposição aos elementos gráficos ali dispostos em movimentos instintivos e arbitrários ou às palavras eventualmente neles contidas.

Na verdade, as “anotações” de Alice a priori sugerem uma instigante discussão sobre o processo de construção da obra de arte em relação ao espaço em que é exibida e também sobre o que significam o suporte e a obra nele realizada.

Finalizada a montagem, Alice talvez possa se sentir livre para respirar e entender o que sua obra disse ou deixou de dizer. Quanto a nós, expectadores privilegiados dessa construção, é dado imaginar qualquer coisa, menos que a pintura morreu!

O livro Azul, também lançado na abertura da exposição, trata da instalação que, em 1998, Alice Vinagre apresentou no Convento de Santo Antônio, no Centro Histórico de João Pessoa. Este registro gráfico da obra de Alice soma-se às publicações de outros artistas plásticos locais – Chico Ferreira, Alberto Lacet, Alena Sá, Gabriel Bechara e Elpídio Dantas – para cumprir o papel de fomentar e divulgar a produção paraibana na área das artes plásticas.

Alice Vinagre, nascida em João Pessoa, Paraíba, vive e trabalha entre João Pessoa e Recife. Concluiu em 1984, o Curso de Pintura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desde a década de 1980 participa ativamente de exposições coletivas no Brasil e no exterior. No Centro de Artes Visuais Tambiá, em João Pessoa, atuou como professora (1994-99), ministrando cursos de Pintura, Introdução à Pintura e ao Desenho. Em julho de 1998, durante a Sommerakademie, na Freie Kunstschule Berlin (Escola Livre de Arte de Berlim) foi uma das coordenadoras de uma oficina de materiais artísticos naturais, tendo ministrado um módulo sobre pintura com pigmentos naturais. 


Célia Araújo
por Dyógenes Chaves
texto publicado no jornal O Norte, 17 de setembro de 2006 

Só conheço histórias de artistas que se iniciaram nas artes durante a infância. A maioria desses artistas começou desenhando garatujas, as letras do alfabeto e as coisas do mundo que os cercavam: a casa, os animais, o sol, papai e mamãe... Uns riscavam as paredes e muros com giz, outros o chão. Brincavam com animaizinhos feitos de frutos verdes ou de barro. Imitavam os adultos cozinhando comidas imaginárias... Mas, até aí não havia, de fato, uma clara indicação de que seriam artistas no futuro. Aliás, todas as crianças agem assim. Alguns pré-adolescentes começam a copiar outros desenhos (quadrinhos, televisão etc.) ou desenhar com rara qualidade. É tempo de inventar (e desenhar) histórias fantásticas e de fazer a diferença junto aos colegas na hora de apresentar os trabalhos escolares. Passam a ser motivo de orgulho para os pais. Novamente, até aí não há, de fato, uma clara indicação de que serão artistas no futuro.

Ora, o “universo” vai guiando cada um para o seu lugar. Alguns enveredam por profissões e caminhos que não deixam oportunidades para exercer o artista que nasceu com eles. Como disse o artista alemão Joseph Beuys (1921-1986): “Todo mundo é um artista”. Com esta famosa máxima, geralmente mal entendida, Beuys se aproximava da ideia de abolir a hierarquia entre artista e observador, produtor e consumidor, destacando o papel ativo e criador da recepção. Aliás, todos nascem com as mesmas condições e oportunidades de se tornarem artistas. O artista já nasce feito...

Ao saber da bela história de vida da artista Célia Araújo, notadamente dos seus tempos de infância no Sertão, percebemos que isso só reforça a tese de que “somos (ou seremos) todos artistas”. Nas confidências da artista à professora da UFPR, Marília Diaz, Célia afirmou: “Na casa grande, eu montava móveis com caixas de fósforos e observava os arabescos dos ladrilhos e das ferragens. Pelas mãos do meu pai descobri as flores e as pedras. Aos onze anos ganhei a máquina de costura Singer, pois era preciso aprender a ser mulher bordando”. Mas, como toda menina de seu tempo, foi preparada para casar e ter filhos. A cozinha, a casa e a família seriam o seu “laboratório” a partir daí. E agora? Felizmente, esse seu destino não a afastou de sua função (ou não seria exatamente o contrário?).

De acordo com um texto poético de Raul Córdula, amigo e apaixonado pela sua obra, Célia Araújo “é uma mulher que só adulta veio a conhecer a arte, como é comum. Sertaneja, acostumou-se a observar o tempo. Ela adivinha chuva, lê os sinais, conhece os aros de luz e cor que envolve a lua. Sabe ver no horizonte a barra do dia, conhece a formação das nuvens e os véus de noiva que garantem inverno. Com a mesma sensibilidade que tem para com o tempo, ela se relaciona com os elementos pictóricos e com os materiais expressivos. Não necessariamente os materiais de arte, mas aqueles que podem exprimir alguma coisa, os elementos inventivos, e com eles traça e realiza suas atitudes. Ela trabalha como se estivesse confeitando um bolo, pois ela também é confeiteira, assim como faz bonecas, xilogravuras, bordados, encáusticas, velas decorativas, artesanatos, trabalhos manuais e costura, sem preconceitos artísticos ou formais”.

A “artista” Célia sempre existiu, portanto. Mas, somente muito tempo depois de criar os filhos (e deles se criarem), teve a sua mais certa “sacada” ao resolver fazer o que sua cabeça e coração mandavam. Fez igual ao poeta: “Vou me embora pra Pasárgada”. Foi cursar a licenciatura em Artes Plásticas na UFPB só para devorar as horas de oficinas e laboratórios técnicos (onde arrasava) e descobrir, nos livros, que a Gestalt (teoria da percepção visual baseada na psicologia da forma) propõe certos princípios que, por exemplo, para cada pessoa a percepção pode ser diferente, de acordo com a experiência do indivíduo, ou seja, com aquilo que ele já viveu ou aprendeu. Quem tem o passado de Célia não pode se furtar de, no presente, querer ser a artista Célia. Suas experiências com os vários materiais (madeira, gesso, tecido, ferro, alumínio, prata, estanho, parafina, cal, argila etc) e as modalidades (encáustica, pintura, gravura, artesanato, joalheria, culinária, desenho etc) que domina já lhe são “meio caminho andado” para a grande arte que todos os artistas sonham. Nesta instalação, Rosas em todos os sentidos, selecionada pelo Edital de Ocupação 2006, da Usina Cultural Energisa (diga-se que o crítico Fernando Cocchiarale, membro do júri do edital, já conhecia sua obra desde o prêmio de Menção Honrosa que Célia abocanhou no Salão Cataguazes-Usiminas de Artes Visuais, em Minas Gerais), ela experimenta uma obra minimalista em que reúne, não para minha surpresa, conteúdo e forma com responsabilidade de “gente grande”. As mais de 10 mil rosas espalhadas no salão da galeria simbolizam toda sua bela história de vida, afinal. A música e o perfume de rosas, a cor branca das peças moldadas em gesso – e que se alternam entre o vermelho, o amarelo e o azul quando sob efeitos de iluminação cenográfica – prometem, na verdade, o encontro de todas as coisas, cores, emoções, histórias, sofrimentos, alegrias (sempre em demasia), lembranças, músicas, dores, odores, bohemias...

A exposição de Célia merece uma visita (a mostra vai até 15 de outubro de 2006, na Usina Cultural Energisa). Que seja por um segundo. Nem a frieza do gesso enquanto material escolhido (apenas porque ela domina a modelagem como poucos) para essa instalação consegue nos afastar do caráter simbólico dessa obra que aponta para um espelho, um altar. O altar de Célia (ou de qualquer um de nós).