quarta-feira, novembro 13, 2013

único, autêntico, sofisticado. tudo junto, de alberto lacet

O artista Alberto Lacet nasceu nas serras do Teixeira, no Sertão da Paraíba, mas vive e trabalha em João Pessoa há trinta anos, depois de ter passado por Campina Grande no final dos anos 70. Ele é, numa só frase, sem dúvida, o maior pintor da Paraíba dos nossos dias!

Aliás, como muitos outros já afirmaram o mesmo com propriedade, vou me policiar para não gastar palavras com elogios baratos ou palavras ao vento...

Eu lembro bem daqueles nossos encontros iniciais no ateliê de serigrafia do mestre Alcides Ferreira, ali na ruazinha do Riachuelo, entre a B. Roahn e a Maciel Pinheiro. Era início da década de 80 e tempos de boa conversa e deliciosas discussões sobre arte, história da arte e também histórias de trancoso, claro. Desde então passei a reverenciar sua arte (e seu largo conhecimento sobre arte e técnica, diga-se), seu método refinado. Virei fã incondicional.

O tempo (ah, o tempo...) cuidou de fazê-lo ainda mais refinado. Como é do estilo dos autênticos, Alberto Lacet obra lentamente a sua cria, como que lambendo, limpando, tirando os excessos (e há excessos em Lacet?). E, talvez por isso mesmo todos ficamos ansiosos por ver uma mostra individual sua. Confesso até, daria tudo para assistir ao embate de Lacet com uma tela em branco... Seria um embate digno de deuses, não?

E como Lacet não parece ser deste mundo dos “simples mortais”, cito o dilema de Sísifo que, por desafiar os deuses, foi condenado a carregar uma pedra até o topo de uma montanha. Quando já estava próximo do objetivo, a pedra rolava montanha abaixo e ele começava tudo de novo. E assim tinha de cumprir, eternamente, essa tarefa sem sentido... Ora, isto nada tem a ver com Lacet (exceto a labuta interminável), mas serve como link para o “absurdo” da arte, do gesto criador, que outro Alberto, o Camus, desenvolveu num ensaio, O mito de Sísifo, em que desanda a discutir a “criação do absurdo” e onde afirma, categórico: “Se o mundo fosse claro, a arte não existiria.” E aí, suas palavras-chave “revolta, liberdade, paixão” para a aceitação do absurdo e/ou a compreensão da vida são aquilo que me faz lembrar a obra (e a função) de Alberto Lacet neste momento.

Explico. Desde que sei este sertanejo mantém-se um operário da pintura. Da boa pintura (o que o difere totalmente de Sísifo, que tinha um castigo sem sentido a executar). Dono de uma técnica sofisticada e de rara beleza, ele consegue ir adiante da mera representação figurativa que reflete a maioria da pintura ocidental. Ele é um romântico e austero com sua obra, daqueles capazes de destruir uma tela para refazê-la melhor, mesmo que perca tempo. E munido de “revolta, liberdade e paixão” tem produzido um dos mais caros tratados de pintura que já se viu nessa terra Tabajara.