Com o objetivo de comemorar os cinco anos de significativa
atuação do Centro Cultural Banco do Nordeste, em Sousa, Alto Sertão da Paraíba,
aceitamos convite da direção deste centro cultural para organizarmos uma
exposição coletiva, exclusivamente com artistas nascidos ou radicados nesta cidade sertaneja,
como uma síntese da produção artística local que tem como objetivo fazer alusão
à paisagem humana e geográfica da região, desde as referências ao “Homem”, o
povo resultado desse caldeirão em que se mesclaram os índios Cariris, além de
europeus e africanos, até as contradições de uma paisagem em que o relevo das
serras se contrapõe à dureza dos cactos.
E, ao optar por esta vertente – Homem e Paisagem –, aliás
tema recorrente quando da inauguração deste CCBNB, em junho de 2007, em que outros artistas paraibanos se apresentaram nas dependências da sua
galeria de arte, fazemos agora nova abordagem dedicada a refletir sobre a
“função” dos artistas locais envolvidos com a “geografia” da cidade e da
região, além da importância arqueológica e histórica da sua gente, do seu
entorno.
Aliás, tudo neste homem e nesta terra suscita certo ar de
drama e austeridade. E, nada melhor que tentar compreendê-los através das obras
destes artistas – da mesma origem, mas de gerações e tendências diferentes –,
que ao falar de sua terra, falam para o mundo, ou, do mundo.
O homem e a paisagem deste lugar podem estar presentes em
pinturas, caso dos talentos de Welson Bruno e de
Maricélia Casemiro; nas esculturas estilizadas ou distorcidas, de Berg Almeida e Bené
Pereira, que retratam a face mais sertaneja e sofrida desse povo. E que registre-se o talento do artista Bené por sua rica inventividade ao
aproveitar material de sucata (de lata de alumínio e ferro) para criar objetos que também remetem às nossas
origens africanas, com todo seu misticismo. Aliás, esse aspecto iconográfico de
referência às culturas africanas e indígenas pode ser observado na produção de
Mércia Ginna e Sérgio Barbosa. A face nordestina é ainda exemplarmente
registrada nas fotografias de Márcio Moraes e de Sidney Alves, este também
fazendo contraponto com a aridez da paisagem local. Na verdade, a paisagem
reflete, ela mesma, a imagem do próprio observador, do tempo, da terra. Já os
artistas Aparecida Moura e Mateus Sarmento, este retornando de temporada de
estudos de pós graduação em Portugal, mostram resultados de muito interesse ligados à paisagem.
São registros fotográficos em que os artistas optam por interferir na própria
obra, seja nos aspectos formais ou mesmo quando “recebe” a colagem de novas imagens
formando, ao final, nova paisagem.
O artista Braz Marinho, certamente, o mais proeminente nesta
coletiva e com larga atuação inclusive em nível internacional, apresenta algo
incomum e irreverente: uma baleadeira (estilingue ou badoque), tão comum às crianças do
mundo rural (e até urbano), muito embora com dimensões alteradas (em suas tiras
de borracha).
Já na obra/instalação de Janilson Noca, vemos clara alusão
às questões políticas enfrentadas pelo homem nordestino há séculos e com apelo em discutir os aspectos sociais contemporâneos, também tão evidente na
instalação de parede do artista Márcio Moraes.
Que somos? Onde vivemos? Para onde vamos? De onde viemos? A
mostra é bem a “cara” do nosso mundo atual com seus contraditórios embates pela
descoberta da significação da identidade, seja da terra ou do homem.