sexta-feira, março 29, 2013

memórias do olhar, de raul córdula


Raul Córdula tem toda uma produção – pictórica, estética, política, poética, sensorial, gráfica, visual, plástica, literária etc. – dedicada não apenas aos olhos do observador e que extrapola muitas questões propostas pelo sistema da arte tal qual o conhecemos desde há trezentos anos, pelo menos. Raul vai muito além da ideia comum em situá-lo apenas como esteta ou pintor, como é mais conhecido. Sem dúvida, essa constatação de multiartista faz de Raul Córdula um raro espécime em nossas artes visuais.

Aliás, infelizmente pouca gente sabe desta sua obra tão vária. Por este motivo, ano passado, ao comemorar seus 50 anos de atuação, Raul optou por apresentar uma antologia de sua produção na tentativa de abarcar o vasto repertório desenvolvido ao longo de tantas situações, lugares, movimentos e momentos cruciais na recente história da arte brasileira. Nesta mostra, 50 Anos de Arte, exibida no Parque Dona Lindu, em Recife, ele mesmo (com a cocuradoria de Olívia Mindelo) segmentou em “fases” ou “séries” algumas das suas obras: das aquarelas produzidas em Paris (1991) às ações em arte postal (O País da Saudade), dos primeiros desenhos (1965) à atividade multidisciplinar a partir do conto A Gaivota Cega, das pinturas de teor político (Araguaia e 1968) às geometrias recentes... E, mesmo com correta montagem, obras seminais de sua lavra, belo texto da jovem Olívia Mindelo, ação educativa e estupenda visitação (cerca de 50 mil pessoas), a mostra ainda não deu conta de nos apresentar, verdadeiramente, o múltiplo e raro Raul Córdula.

Agora, por ocasião da abertura das comemorações dos 10 anos de atuação da Usina Cultural Energisa, há nova oportunidade de adentrarmos – nós, seus conterrâneos em especial – no rico universo deste artista. E, mais uma vez por sua decisão em desvelar outras de suas “fases” e “séries”, Raul escolheu obras destinadas a também falar de sua paraibanidade, talvez até remetendo à citação atribuída a Leon Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Raul Córdula apresenta algumas obras – até inéditas aqui na “província”, apesar de produzidas desde os anos 60 – em sincera elegia à sua terra natal, como as séries Bandeira do EGO, Pedra do Ingá e Borborema. Outras pinturas, geométricas e recentes, além de objetos, assemblages, vídeos e desenhos compõe essa antologia do seu fazer artístico. Estas são suas “memórias do olhar” e que, graças também à sua verve de historiador (e poeta), revela-se primorosa crônica de seu tempo.