segunda-feira, maio 19, 2014

grandes formatos na REDE

Seguindo o preceito de que toda mostra de artes visuais – em lugar público ou privado, de caráter individual ou coletivo –, não seja apenas mero ajuntamento de obras de arte, a galeria Rede Arte Contemporânea investe firmemente na ideia de que qualquer exposição deve ter certo cuidado “conceitual” por parte do seu curador ou organizador. 

Em outras palavras, isto quer dizer que as obras (e a exposição) devem ser exibidas dentro de uma temática que facilite a sua compreensão (e apreensão) por parte dos visitantes. Nisso também deve estar incluído uma boa montagem, a mediação realizada por monitores treinados, a exibição (e disponibilização) de textos explicativos e informações técnicas sobre as obras, os artistas e sobre a proposta curatorial etc. Certamente assim haverá maior empatia entre obra e espectador...

Pensando nisso a Rede resolveu propor como tema para sua nova exposição um assunto – as dimensões das obras de arte – que, apesar de parecer banal, tem lá sua importância tanto na produção cotidiana do artista como no sistema do mercado de arte. E aqui há um dado que merece destaque: a maioria dos artistas define o valor de suas obras a partir de medidas como o metro quadrado, por exemplo. Ou seja, uma obra maior (nas dimensões) vale mais que uma obra menor. Isto é claro e simples.

Mas há outras questões (e reflexões) neste tema das dimensões das obras de arte. No aspecto histórico da arte, por exemplo, as obras produzidas pelos artistas do Modernismo raramente ultrapassavam um metro quadrado. E isso ocorria porque nem sempre havia colecionadores privados com tanto espaço em casa ou por causa das poucas “paredes” dos poucos museus da época. Um artista só produzia uma grande obra (no sentido físico, bem entendido) apenas quando se tratava de encomenda. O que ainda ocorre nos dias atuais...

Há um fato curioso a ser compartilhado. Na Paraíba, no final dos anos 80, aportou uma imensa mostra de arte contemporânea da Alemanha, contendo pinturas e esculturas em grandes dimensões, distribuída em todo o mezanino do Espaço Cultural José Lins do Rego. Esta exposição, batizada de Arte Atual de Berlim, fez o maior sucesso. Dois anos depois, alguns artistas paraibanos, meio que atingidos em seu “amor próprio”, se juntaram ao governo estadual para também exibirem sua produção na mostra Arte Atual Paraibana, em 1988. Essa era a chance de afirmar: “Nós também sabemos pintar em grandes dimensões”. O que se viu foi uma enxurrada de belos e enormes painéis, instalações e esculturas. No entanto, logo após a exposição, passou-se a discutir sobre o porquê dessas obras enormes. Quem vai comprar? Algum colecionador privado? Temos museus para abrigá-las? Onde serão exibidas? Sabemos as respostas, mas isso não importa. O que conta é: sabemos fazer “obras grandes”.

Foi pensando nisso tudo que a galeria Rede Arte Contemporânea (localizada no bairro de Manaíra, em João Pessoa) resolveu apresentar numa mostra coletiva – a segunda neste ano de 2014 – obras em grandes dimensões de talentos das artes visuais da Paraíba. São 14 obras: pinturas sobre tela de Alena Sá; instalação de Alice Vinagre; pintura-colagem e desenhos de Margarete Aurélio; técnica mista e impressão sobre Canvas de Chico Dantas; fotografia de Rodolfo Athayde; cerâmica de Chico Ferreira; e desenho de Dyógenes Chaves, além de um autorretrato do artista convidado, Manuel Dantas Suassuna.

Claro, com tantas obras (e de grandes dimensões) é possível imaginar que as paredes da galeria estejam totalmente ocupadas e que a montagem da exposição até sacrifique o espaço disponível, tornando o ambiente “sufocante”. Mas isso é mesmo a intenção do projeto curatorial da Rede. Pode até servir para indagarmos: qual é a dimensão ideal da obra de arte? ou, ainda, que relação há entre a obra e o ambiente? Visitar esta exposição será uma maneira de encontrarmos as respostas. Ou não.