Seguindo o
preceito de que toda mostra de artes visuais – em lugar público ou privado, de
caráter individual ou coletivo –, não seja apenas mero ajuntamento de obras de
arte, a galeria Rede Arte Contemporânea investe firmemente na ideia de que
qualquer exposição deve ter certo cuidado “conceitual” por parte do seu curador
ou organizador.
Em outras
palavras, isto quer dizer que as obras (e a exposição) devem ser exibidas
dentro de uma temática que facilite a sua compreensão (e apreensão) por parte
dos visitantes. Nisso também deve estar incluído uma boa montagem, a mediação
realizada por monitores treinados, a exibição (e disponibilização) de textos
explicativos e informações técnicas sobre as obras, os artistas e sobre a
proposta curatorial etc. Certamente assim haverá maior empatia entre obra e
espectador...
Pensando
nisso a Rede resolveu propor como tema para sua nova exposição um assunto – as
dimensões das obras de arte – que, apesar de parecer banal, tem lá sua
importância tanto na produção cotidiana do artista como no sistema do mercado
de arte. E aqui há um dado que merece destaque: a maioria dos artistas define o
valor de suas obras a partir de medidas como o metro quadrado, por exemplo. Ou
seja, uma obra maior (nas dimensões) vale mais que uma obra menor. Isto é claro
e simples.
Mas há
outras questões (e reflexões) neste tema das dimensões das obras de arte. No
aspecto histórico da arte, por exemplo, as obras produzidas pelos artistas do
Modernismo raramente ultrapassavam um metro quadrado. E isso ocorria porque nem
sempre havia colecionadores privados com tanto espaço em casa ou por causa das
poucas “paredes” dos poucos museus da época. Um artista só produzia uma grande
obra (no sentido físico, bem entendido) apenas quando se tratava de encomenda. O
que ainda ocorre nos dias atuais...
Há um fato
curioso a ser compartilhado. Na Paraíba, no final dos anos 80, aportou uma
imensa mostra de arte contemporânea da Alemanha, contendo pinturas e esculturas
em grandes dimensões, distribuída em todo o mezanino do Espaço Cultural José
Lins do Rego. Esta exposição, batizada de Arte Atual de Berlim, fez o maior
sucesso. Dois anos depois, alguns artistas paraibanos, meio que atingidos em
seu “amor próprio”, se juntaram ao governo estadual para também exibirem sua
produção na mostra Arte Atual Paraibana, em 1988. Essa era a chance de afirmar:
“Nós também sabemos pintar em grandes dimensões”. O que se viu foi uma
enxurrada de belos e enormes painéis, instalações e esculturas. No entanto,
logo após a exposição, passou-se a discutir sobre o porquê dessas obras
enormes. Quem vai comprar? Algum colecionador privado? Temos museus para
abrigá-las? Onde serão exibidas? Sabemos as respostas, mas isso não importa. O
que conta é: sabemos fazer “obras grandes”.
Foi
pensando nisso tudo que a galeria Rede Arte Contemporânea (localizada no bairro
de Manaíra, em João Pessoa) resolveu apresentar numa mostra coletiva – a segunda
neste ano de 2014 – obras em grandes dimensões de talentos das artes visuais da
Paraíba. São 14 obras: pinturas sobre tela de Alena Sá; instalação de Alice
Vinagre; pintura-colagem e desenhos de Margarete Aurélio; técnica mista e
impressão sobre Canvas de Chico Dantas; fotografia de Rodolfo Athayde; cerâmica
de Chico Ferreira; e desenho de Dyógenes Chaves, além de um autorretrato do
artista convidado, Manuel Dantas Suassuna.
Claro, com
tantas obras (e de grandes dimensões) é possível imaginar que as paredes da
galeria estejam totalmente ocupadas e que a montagem da exposição até sacrifique
o espaço disponível, tornando o ambiente “sufocante”. Mas isso é mesmo a intenção
do projeto curatorial da Rede. Pode até servir para indagarmos: qual é a
dimensão ideal da obra de arte? ou, ainda, que relação há entre a obra e o
ambiente? Visitar esta exposição será uma maneira de encontrarmos as respostas.
Ou não.