quinta-feira, fevereiro 17, 2011

obras de arte nas ruas, praças e edifícios: é necessário?*

* texto publicado na Revista de Turismo nº 255, João Pessoa, novembro de 2010

A maioria das exposições realizadas em João Pessoa (e até no país inteiro), no circuito comercial, tem nos mostrado pinturas, desenhos, fotografias e gravuras. É verdade que a escultura tem sido muito menos mostrada que as demais. No entanto, aqui e ali há aparições da produção em cerâmica sendo compreendida também como escultura. Aliás, muito justo. O que sempre houve foi um preconceito contra os ceramistas, tratando-os, às vezes, apenas como artesãos. Pura besteira. Basta apreciar a obra de artistas como Miró, Brennand e Chico Ferreira ou ainda pensar no que diz o nissei Megumi Yuasa: “Eu gostaria que a cerâmica não ficasse dentro de um espaço fechado, colocada numa estante ou coisa assim, mas que ela tivesse uma colocação ambiental, que tivesse a continuidade da terra”.

Também é importante relacionar a produção em escultura com a matéria prima que seja mais abundante na região. Em Minas, por exemplo, há abundância do aço, do ferro e de rochas mais moles. No Norte, predomina a madeira; no Nordeste, a argila. E, neste caso, há o referencial das feiras populares em que o design em cerâmica está presente nos utilitários e santos de devoção do povo nordestino. Também, não podemos esquecer a referência sintomática da decadência da indústria pesada tão evidente na obra do paraibano Jackson Ribeiro, que sempre trabalhou utilizando restos da sucata industrial.

Trazendo o assunto para nossa cidade, chegamos à conclusão que a escultura não acompanhou o seu crescimento vertiginoso. Refiro-me a obras colocadas ao ar livre e não àquelas que podem ser vistas em museus e galerias. Dentre as poucas obras públicas existentes deve-se citar o conjunto escultórico da Praça João Pessoa, no centro da cidade, afora bustos e estátuas em outras praças. Nesta linha ainda há outros exemplos no cemitério da Boa Sentença. Na verdade, estas são obras clássicas, fundidas em bronze e provenientes de um gosto bem fin de siècle. Recentemente, a Prefeitura Municipal criou o Concurso Jackson Ribeiro de Arte Pública e selecionou seis obras que estão sendo instaladas em giradores da cidade. Apesar de iniciativa louvável e do esforço do júri de premiação, as obras são de autoria de artistas que jamais realizaram uma obra de arte pública, com exceção do artista paraibano Erickson Brito, que já trabalha com escultura há anos. Já a escultura mais importante da cidade é a obra de Jackson Ribeiro, Porteiro do inferno, instalada inicialmente ao lado da Igreja Batista e da antiga Faculdade de Filosofia (FAFI) e, finalmente, após desnecessárias polêmicas, agora “residindo” no girador da UFPB.

Para não se deixar pensar que a arte pública seja só escultura, é bom citar alguns outros autores e suas obras espalhadas pela cidade: Flávio Tavares (Clínica São Camilo e Hemocentro), Raul Córdula (Assembléia Legislativa), Miguel dos Santos (Asplan e Parque Solon de Lucena), Rodolfo Athayde (Conselho Regional de Medicina e Unicred), Alberto Júnior (Colégio Pio X), Chico Dantas (Aeroporto Castro Pinto) e Euclides Leal (Clínica Ely Chaves), afora os vários murais de Chico Ferreira espalhados pela cidade. Todas realizadas em lajotas de cerâmica para piso ou azulejo (exceção às obras de Raul Córdula e de Miguel dos Santos).

Deve-se registrar que esta é uma quantidade ínfima de obras públicas, se levado em conta o fato de existir uma Lei Municipal que garante a instalação obrigatória de obras de arte, de fácil visibilidade externa e confeccionada em material resistente, em prédios com mais de 2.000 metros quadrados de área construída. A Prefeitura de João Pessoa, através da Secretaria do Planejamento, atualizou as normas de aplicação desta lei, mas ainda falta melhor cuidar do seu acompanhamento, que começa a partir do pedido de licença para construir um prédio nestas condições. Para mim, a Lei dos Edifícios, como está, deveria ser extinta tal a péssima “qualidade” de muitas das obras beneficiadas. Como sugestão, a Prefeitura poderia premiar – isenção de impostos? – aquelas construtoras que utilizam esta Lei de forma espontânea e responsável e instalam boas obras (e de artistas experientes), que tornam ainda mais bela a cidade.

Ora, toda sociedade tem uma maneira de se identificar através de seus símbolos e monumentos. Se já temos o Cabo Branco e os conjuntos barrocos da Guia e de Santo Antonio, no entanto, precisamos ter outras boas referências de arte pública. E alertamos que a irresponsabilidade de instalar esculturas, aleatoriamente e sem envolver construtoras, arquitetos e bons artistas, poderá nos legar, futuramente, verdadeiros monstros de ferro e de falso plástico.

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