quinta-feira, fevereiro 24, 2011

cadê o museu?*

* texto da jornalista, Margarete Araújo, publicado no Jornal da Paraíba, em 01 de julho de 2001

Que a Paraíba sempre foi reconhecida como um celeiro de talento nas artes plásticas, todo mundo já sabe. O que poucos sabem e muitos querem ver, é a implantação do Museu de Arte Contemporânea, que desde o ano passado existe oficialmente por Decreto Lei instituído pelo governo do Estado. Só que até agora, a comunidade artística e o público paraibano esperam a sua concretização.

O que antes parecia um projeto simples desenvolvido pelos artistas plásticos Raul Córdula e Dyógenes Chaves, acabou virando em uma proposta arrojada e cara, o que tem impedido até o momento que ela saia do papel. Muita burocratização e pouco dinheiro. “O Museu de Arte Contemporânea da Paraíba foi ideia que apresentei quando exercia o cargo de diretor de Desenvolvimento Artístico e Cultural do Espaço Cultural, compartilhada por Dyógenes Chaves, chefe do setor de artes plásticas, e por Chico Pereira, na época, assessor da Secretaria de Educação e Cultura. A ideia foi encaminhada ao professor Sales Gaudêncio, então presidente da Funesc”, lembra Raul Córdula.

A ideia

De acordo com o artista paraibano, a ideia era simples, propor atividades museológicas dentro do Espaço Cultural. “Desde a realização do primeiro workshop de artes plásticas com a participação de artistas alemães e brasileiros, foi doada uma obra de cada artista. Os alemães doaram suas obras com a condição de que se organizasse uma reserva técnica, termo para definir sala dotada de equipamento técnico para conservação de acervo artístico, dotada de climatização e condições de conservação e restauro das obras”, comenta Córdula.

Essa era a base do projeto. Com a continuação dos workshops, oficinas e exposições na Galeria Archidy Picado, as atividades em relação à arte contemporânea cresceram na cidade, assim como as obras do acervo. Hoje, é considerado um referencial importante, já que abriga obras de importantes artistas paraibanos, como também de marselheses, através do intercâmbio com a Associação Le Hors-Là, alemães, portugueses e brasileiros de outros estados. Para Raul Córdula, nada melhor do que dotar esse acervo de uma estrutura museológica com a finalidade de atender tecnicamente a conservação das obras e criar uma relação curatorial entre a instituição e o público.

De acordo com idealizador, basicamente seria necessária a dotação técnica do espaço onde já funciona a atual reserva técnica “que hoje não passa de um depósito com as obras empilhadas, correndo todos os riscos de degradação, e da Galeria Archidy Picado e salas adjacentes”, argumenta. No projeto, a dotação técnica não seria mais do que mobiliário, com armários projetados para guardar telas, obras em papel, escuIturas, instalações, multimídias etc.; além de climatização com equipamento para manter o espaço com temperatura e índice de umidade permanentes, arquivo de obras e artistas informatizados para atender ao público estudantil, laboratório de restauração de arte com ênfase para a restauração de papéis, o que atenderia também ao acervo do Arquivo Público e do Museu José Lins do Rêgo, e sala de projetos e montagens.

Museu poderá ser instalado no próprio Espaço Cultural em JP

O espaço para a instalação do Museu seria o próprio Espaço Cultural. Para os idealizadores, o projeto caberia na verba que o PRONAC-Programa Nacional de Apoio à Cultura do MinC, destina para museus, acervos, bibliotecas e obras afins. Na fase de providências para encaminhamento desse projeto, a presidência da Funesc mudou. O atual presidente, professor Damião Ramos, encaminhou o projeto para aprovação do governador José Maranhão, que o criou por decreto.

Para Córdula, o projeto que poderia ter sido iniciado com os próprios recursos do Espaço Cultural, com seu próprio pessoal, e com a colaboração de especialistas funcionários do Estado, como restauradores e museólogos, foi substituido pela projeção de um edifício dentro do Espaço Cultural, algo mais caro que o projeto original, que orçaria em torno de R$ 70 mil reais. De acordo com suas informações, foi criada uma comissão com quase 20 membros para “pensar” o Museu. “Pensar o que já havia pensado. Criou-se então a fórmula do fracasso: uma obra cara e uma comissão para atrapalhar. Vocês viram o Museu de Arte Contemporânea da Paraíba? Nem eu.”, questiona.

Museu itinerante

Para o presidente da Funesc, professor Damião Ramos, as dificuldades para a implantação do Museu de Arte Contemporânea estão na verba esperada pelo Ministério da Cultura. Enquanto o dinheiro não vem, ele espera criar condições para que o museu ganhe vida e siga uma proposta itinerante.

O orçamento previsto por Damião para os cuidados técnicos e a construção do local é em torno de R$ 150 mil reais. “Estamos esperando que o MinC libere os recursos. Mesmo assim, o museu já existe. temos mais de 700 obras e tenho conversado com museólogos para que possamos desenvolver o que chamam de museu caminhante”, espera.

O coordenador de Artes Plásticas do Espaço Cultural, Dyógenes Chaves, espera que as leis de incentivo cultural, através do abono fiscal, possam dar andamento ao processo de instalação do museu, principalmente no que diz respeito ao acervo.

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