quinta-feira, fevereiro 24, 2011

vanguarda e contemporaneidade*

* texto publicado no jornal O Norte, em 04 de janeiro de 2000

Um dos mais importantes acontecimentos das artes plásticas em nosso Estado foi a recente criação do Museu de Arte Contemporânea da Paraíba, através de decreto assinado pelo governador José Maranhão no último dia 5 de novembro do ano passado. A notícia foi tão alvissareira que ainda não houve tempo para melhor esclarecer conceitos, objetivos e a necessidade deste equipamento cultural em nossa cidade.

Antes de mais nada, o projeto deste MAC-Paraíba é antigo (em 1997, foi enviado ao Ministério da Cultura um pedido de apoio financeiro redigido por Raul Córdula e por mim, da Funesc, e Amélia Couto, técnica em museologia da Fundação Joaquim Nabuco). Mais recentemente, a ideia foi retomada pelo próprio Raul Córdula a pedido do presidente da Funesc, Damião Ramos Cavalcanti, para agilizar sua viabilização. O projeto prevê a instalação de uma reserva técnica nas dependências do Espaço Cultural José Lins do Rego a partir de ideia do arquiteto Expedito Arruda. É na reserva técnica (o coração de qualquer museu) onde se manuseiam, restauram, guardam e embalam as obras de arte com a ajuda de pessoal técnico especializado, além de climatizadores e desumidificadores de ar, por exemplo. Sem reserva técnica não pode existir acervo, sem acervo não existe museu. Simultaneamente, está previsto o treinamento de pessoal técnico e adequação de instalações e equipamentos profissionais nas dependências do Espaço Cultural. A nova painelagem para exposições já está pronta.

No que se refere ao nome escolhido para o Museu, algumas poucas pessoas imaginam polêmica à vista. Bobagem. Tudo não passa de erro de interpretação em torno da nossa opção de nomenclatura, ou melhor, por termos acrescentado o termo “contemporânea” ao nome do Museu, ficando então Museu de Arte Contemporânea da Paraíba. MAC-Paraíba. Estes puristas se confundem todos querendo que a palavra contemporânea signifique vanguarda, ou seja, temem que este Museu seja um espaço apenas para instalações, obras conceituais ou efêmeras. Aliás, Marcel Duchamp já realizava obras de vanguarda em 1917 e isso não quer dizer que estas obras sejam nossas contemporâneas. De acordo com o Dicionário Aurélio (1988), contemporâneo significa “que é do mesmo tempo, que vive na mesma época (particularmente a época em que vivemos)”. Quer dizer, qualquer obra pode ser contemporânea, dependendo apenas de que época, movimento artístico ou grupo de artistas a eles a mesma esteja vinculada.

Para felicidade destes ingênuos defensores da arte atual convencional (também contemporânea, portanto) a coleção que vai dar início ao acervo deste Museu será justamente formada de artistas “modernos” (uns mais, outros menos) como os excelentes paraibanos Flávio Tavares, Miguel dos Santos, Roberto Lúcio, Raul Córdula, Archidy Picado, Chico Dantas, Ivan Freitas, Sérgio Lucena, Chico Ferreira, Cláudio Santa Cruz, Chico Pereira, Marlene Almeida, Josildo Dias, Alice Vinagre, Sebastião Pedrosa, Régis Cavalcante e Maria Helena Magalhães, além dos primitivos Francisco Araújo e Ana Pamplona. Claro, além de vários outros artistas brasileiros que tem obras na nossa pequena pinacoteca como, por exemplo, Maria Bonomi, Alex Fleming, Aldemir Martins, Cosme Martins, Pierre Chalita, Luiz Hermano, Paulo Whitaker e mais alguns estrangeiros como Akbar Behkalan, Malu Schoop, Dieter Ruckhaberle, entre outros.

É bom esclarecer que pelo menos 70% deste acervo (pinturas, desenhos, gravuras e esculturas) foi formado a partir de workshops entre artistas brasileiros e alemães no inicio dos anos 1990. Não se desesperem, não há ainda a ideia de incluirmos obras conceituais e instalações neste acervo. Nos faltaria condições museológicas de armazenamento para este tipo de obra.

Aliás, quando pensamos em criar um museu de arte em João Pessoa foi no intuito de assegurar um espaço para abrigar a “boa” produção paraibana e, também, para promover mostras de alto nível e que não chegam aqui por falta de um espaço museológico adequado. Hoje, algumas destas mostras (Picasso, Basquiat, Beuys, Goya, Ianelli, entre outros) vem só até Recife, de onde também voltam (o mesmo acontece na música, teatro e dança, não?). Portanto jamais será um espaço dedicado a esta ou aquela tendência artística. Muito menos para artistas de ocasião e só aplaudidos por leigos e ingênuos. Será abrigo e orgulho da melhor arte paraibana.

Quanto ao nome, ora, é tolice discutir nome de museu. Mas, o papel do museu. Deve haver uma denominação “técnica” para o Museu. Um nome atual e sonoro. E com tudo aquilo que se espera de um museu contemporâneo no sentido de sua funcionalidade, atualidade e dinamismo, e não apenas para expor “arte”, mas para tentar discuti-la, explorá-la, entendê-la

Por exemplo, em qualquer lugar do mundo se comemora a instalação de um espaço para a arte. Não importa se é um espaço “novo” ou restaurado. Em São Paulo e Niterói, recentemente, foram criados (e restaurados) três museus de arte. Que maravilha para todos nós. O que importa é aumentar os espaços para a arte. Portanto, todos deveriam enviar congratulações ao Governador por essa atitude. E se há insatisfeitos, sugiro o que me disse um amigo: “Quem estiver achando ruim este Museu, que vá criar o seu.”

Implantação será em breve

O Conselho Diretor da Fundação Espaço Cultural da Paraíba aprovou, na última terça-feira, os nomes da comissão para implantação do Museu de Arte Contemporânea da Paraíba. Com a direção geral do presidente da Funesc, Damião Ramos Cavalcanti, compõem: Carlos André Cavalcanti (Diretoria de Desenvolvimento Artístico Cultural), Raul Córdula (artista plástico), Marcos Lontra (diretor e curador do Museu de Arte Moderna de Pernambuco), Dyógenes Chaves (coordenador de Artes Plásticas), Solange Bandeira (diretora da Galeria Archidy Picado), Expedito Arruda (arquiteto), Régis Cavalcanti (artista plástico e arquiteto), Tânia Suassuna (técnica em educação), Tadeu Pinto (empresário) e Enilda Vieira (assessora cultural da Funesc).

Segundo Damião Cavalcariti, a comissão terá um prazo de quatro meses para instalação do Museu, no sub-mezanino da Rampa 2 da Funesc. Com isso, as perspectivas indicam que durante o VI Fenart já estará funcionando. Ele acrescentou que, ao entregar o projeto de obtenção de recursos para adaptação do local, o MAC-PB foi bastante elogiado pelo secretário do Ministério da Cultura, Otávio Elísio, bem como pelo museólogo Marcos Lontra. Este comentou que será o maior do Nordeste, em espaço físico, visto que ocupará uma área de cerca de 800 metros quadrados.

O Museu de Arte Contemporânea da Paraíba foi criado pelo governador José Maranhão, através do Decreto nº 20.696, de 05 de novembro de 1999. Damião informou que, para a inauguração do Museu, serão convidados renomados artistas, em nível internacional. Antecipou os nomes de Tomie Ohtake, Antônio Dias, Albuquerque Mendes, dentre outros artistas portugueses que virão para o Fenart, em comemoração aos 500 Anos do Descobrimento do Brasil.

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