sábado, fevereiro 19, 2011

o acervo funesc: sua história

A Fundação Espaço Cultural da Paraíba é a principal instituição cultural da Paraíba, não apenas no âmbito do governo estadual. Também é responsável por dois importantes espaços físicos da cultura paraibana: o Theatro Santa Roza, um dos mais expressivos teatros históricos do Brasil, e o Espaço Cultural José Lins do Rego - projeto do arquiteto Sérgio Bernardes - um gigante de 52 mil metros quadrados composto de teatros, cinema, galeria de arte, planetário, centro de convenções, biblioteca etc. Em sua trajetória de quase trinta anos, a partir de 1983, a Funesc tem obtido alguns êxitos marcantes, a exemplo do Festival Nacional de Arte-Fenart, já em sua décima terceira edição.

No final dos anos 1980, a Funesc abrigou uma gigantesca mostra de arte alemã, seguida de dois workshops entre artistas brasileiros e alemães, quando se iniciaram as possibilidades de convivência e troca entre estes dois países. Ao mesmo tempo em que se experimentava o trabalho nas oficinas coletivas, nascia o acervo Funesc com a doação de obras de arte formando a partir daí, e por esse motivo, um conjunto muito homogêneo.

Após isso, outras obras de artistas paraibanos, especialmente, se juntaram ao acervo, como também algumas doações de artistas proeminentes nas artes plásticas do país, como as gravuras de Maria Bonomi e Aldemir Martins, ambas doadas em 1993 durante a mostra Xilogravura: Do Cordel à Galeria, com a curadoria de Leonor Amarante.

Um dos três acervos de artes plásticas mais importantes do Estado, a Funesc emprestou quase metade das obras da exposição Memória das artes visuais na Paraíba – do século XIX à contemporaneidade (março a maio de 2008, na Usina Cultural Energisa). Destaque para o painel coletivo A Pedra do Reino, de Flávio Tavares e Sérgio Lucena, realizado em 1988, logo após a mostra Arte Atual de Berlim, em homenagem a Ariano Suassuna e "viajando" em um clima medieval em que se destacam figuras boschianas pintadas por Sérgio Lucena, enquanto Flávio parece ser o arquiteto maior da pintura. A obra foi adquirida pelo Governo do Estado ao lado de mais outros dois painéis nas mesmas dimensões e também realizadas a quatro mãos. Do ponto de vista histórico, a Funesc apresenta nesta mostra outras obras emblemáticas para a compreensão da arte paraibana, por exemplo, um desenho de Chico Pereira, de 1967, realizado numa época de grandes acontecimentos nas artes plásticas da Paraíba: da criação do Museu de Arte Assis Chateaubriand à participação de artistas locais na Bienal da Bahia e Bienal de São Paulo, até a instalação em praça pública da escultura Porteiro do Inferno.

Em 1997, durante a gestão de Raul Córdula na direção da DDAC/Funesc e minha, na coordenação de artes plásticas, e sabendo da urgência de uma reserva técnica para o recente acervo foi planejado um projeto bem maior: a criação do Museu de Arte Contemporânea da Paraíba-MAC. Em 1999, Damião Cavalcanti, presidente da Funesc, convencido da importância do tema, retomou o assunto e constituiu uma comissão de implantação do MAC. O então governador José Maranhão assinou Decreto (nº 20.696, de 05/11/1999) criando o museu e dando partida para angariar recursos para sua implantação (o projeto arquitetônico era de Expedito Arruda e o texto original, feito por mim e por Raul Córdula, foi entregue ao então senador Ney Suassuna para buscar apoio financeiro junto a órgãos de fomento cultural e estatais).

Infelizmente, tudo permaneceu parado em função do novo governo (Cássio Cunha Lima) que ignorou totalmente esse projeto, apesar dos meus inúmeros ofícios (falando sempre da urgência de implantação do museu e das condições do acervo) enviados aos vários presidentes da Funesc.

Em função do descaso oficial e reconhecendo o tamanho do problema (as condições do acervo), fizemos (com a ajuda técnica dos restauradores Fernando Diniz e Dulce Enrique), em 2004, um projeto para captar recursos junto a editais de cultura (que incluíria a instalação de reserva técnica e a restauração de 15 obras do Acervo Funesc). E o enviamos, mais de uma vez, para o FIC Augusto dos Anjos, à Lei Rouanet e ao Programa BNB de Cultura. Não obtivemos nenhuma resposta positiva.

Em junho de 2009, ainda como coordenador de artes plásticas da Funesc, tomamos a iniciativa de reenviar este mesmo projeto – sem tirar nem por – ao Programa BNB de Cultura 2010, que foi aprovado em final de novembro de 2009. Eis que em fevereiro de 2011 o projeto é finalizado e sua realização propõe um novo tempo para a guarda e manutenção das obras de arte pertencentes à Funesc. Entre os trabalhos restaurados estão obras dos artistas Josildo Dias, Sebastião Pedrosa, Raul Córdula, José Rufino, Chico Dantas, Alice Vinagre, Alberto Lacet, Roberto Lúcio, Marlene Almeida e Akbar Behkalam. Registre-se que a restauração das obras foi conduzida pela equipe de restauradores formada por Álvaro Neves, Fernando Diniz e Dulce Enrique e foram realizadas no Laboratório de Restauração, instalado na Fundação Casa de José Américo.

Muito embora, nas matérias publicadas na imprensa local desde o ano passado, o atual coordenador de artes plásticas, Sidney Azevedo, e o ex-presidente da Funesc, Maurício Burity, deselegantemente, põem a culpa das condições precárias do Acervo na gestão passada. Atitude injusta, mas muito comum na administração pública: colocar a culpa no antecessor. "O dinheiro [obtido junto ao Programa BNB de Cultura: R$ 39.700,00] será aplicado na galeria e na restauração de 15 obras de artistas paraibanos que foram se deteriorando ao longo do tempo, fruto da má conservação e da falta de manutenção das obras"; "Quando assumiu a coordenação de artes visuais da Funesc, há pouco mais de um ano, Sidney Azevedo encontrou as obras acondicionadas de maneira totalmente inapropriada e sem a devida manutenção"; "A Galeria Archidy Picado, unidade cultural da Fundação Espaço Cultural da Paraíba, possui um acervo com obras de importantes artistas locais, nacionais e estrangeiros, predominando a pintura, o desenho e a gravura. Este acervo vem sendo adquirido ao longo dos anos, e se encontrava guardado sem o correto acondicionamento, numa sala inadequada, o que causou danos às obras, alguns irremediáveis", são algumas das matérias publicadas em vários jornais da cidade. Má fé ou falta de memória?

Ora, já sabíamos das precárias condições em que as obras se encontravam, portanto, apesar de minhas limitações de poderes na Funesc nestes anos todos, não poderia ficar satisfeito em ter sido tratado como o responsável – mesmo que indiretamente – pela situação em que se encontravam as obras do acervo. Também, deve-se dizer que todo o investimento nesta ação foi externo (via Programa BNB de Cultura) atestando o pouco investimento financeiro da Funesc nesta área além da pífia performance de artes visuais no último Fenart. Neste 2010, apenas se salvou o edital de ocupação da Galeria Archidy Picado que apresentou ótimas exposições, sem dúvida.

Atualmente, a Funesc se prepara para implantar o Museu de Arte Contemporânea da Paraíba que, esperamos, receba os recursos prometidos pelo Ministério da Cultura na gestão passada e seja conduzido com a ajuda de especialistas e técnicos da área de museologia, e, principalmente, que seja respeitado o trabalho de tantos outros profissionais que tem levantado a bandeira das artes plásticas na Paraíba desde muitos anos.

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