quinta-feira, novembro 29, 2012

em cartaz (grupo DIA em exposição na aliança francesa joão pessoa)

As artes visuais em nossa Paraíba tem pouquíssimos casos de grupos (ou coletivos) de artistas. Essa constatação, infelizmente vai de encontro à cena contemporânea em que, cada vez mais, os artistas buscam na ação (e produção) coletiva alguma forma de se contrapor às políticas públicas, sempre excludentes aos iniciantes e jovens talentos.

Nos anos 60, em Campina Grande, o grupo Equipe 3 (Anacleto Elói, Chico Pereira e Eládio Barbosa) foi pioneiro na forma de trabalhar como coletivo (de fato). Além das várias ações, performances e happenings, o grupo empreendeu uma “viagem de estudos” pelos principais centros do país para visitar museus e mostras como a Bienal de São Paulo e a Bienal da Bahia. Mesmo assim, cada um dos artistas tinha sua própria “linha de ação” enquanto indivíduo, culminando em participações “solo” nas Bienais de São Paulo (Eládio) e da Bahia (Chico Pereira e Eládio). Mas, reconhecemos que foi o coletivo que projetou o artista.  

Nos anos 80, no NAC/UFPB, o grupo 3NÓS3 (Hudinilson Júnior, Mário Ramiro e Rafael França), de São Paulo, trouxe para a cidade outro bom exemplo de um coletivo de artistas, não o suficiente para influenciar o surgimento de algum grupo local nesse período. A cena da época ainda enxergava o artista como algo único, individual.

Hoje, o grupo DIA, formado pelos jovens Daniel Ferreira, Izaac Brito e Américo Gomes, traz um sopro de felicidade ao reviver o sentido de trabalhar “pensando junto”. Todos com a ideia de dividir espaço, ação, emoção e conceito. Com passagens pelo curso de Artes Visuais da UFPB (onde se conheceram em 2007), estes artistas seguem o mesmíssimo ideário do Equipe 3 e do 3NÓS3: juntar experiências e discuti-las até tudo resultar numa coisa só, conceitual e esteticamente falando. As forças (e os conhecimentos adquiridos individualmente) são canalizadas para um tema escolhido que pode surgir de um filme, de uma música, das artes gráficas, ou de qualquer assunto que lhes interesse discutir, afirmar, reafirmar, negar...

Para esta mostra, Em Cartaz, na Aliança Francesa João Pessoa, o grupo foi buscar no cinema (vide o título bem apropriado) a ideia para produzir uma série de objetos referentes a filmes – Psicose, de Alfred Hitchcock, e O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, por exemplo – que servem de suporte para a ilustração de algumas cenas marcantes.

Pelas palavras dos “meninos”: “Esta série fala de objetos, mas não de todo objeto. A cenografia é parte fundamental de um filme e, em certos casos, elementos componentes da cenografia ganham grande importância, sendo indispensável para determinada cena. Estes elementos cenográficos adquirem eventualmente status de ator. Seria possível até criar um hall da fama para esses artistas despercebidos batizados aqui como ‘personagens cenográficos’.”

No mais, nosso maior interesse é que o DIA continue sempre se afirmando, trabalhando, atuando... se redefinindo a cada dia. Afinal, cada dia é um novo DIA.

conversa com o grupo DIA

1. Como se deu a ‘descoberta’ de vocês pela arte? Foi fascinação ou desígnio?
Por algum motivo, as crianças adoram desenhar, colocar no papel as coisas e as pessoas que gostam. Não foi muito diferente para nós. O que acontece é que nós como coletivo, tentamos unir nossos pontos de vista, gosto pessoal e afinidades. Tentamos convergir tudo isso em um único produto final, algo que deixa de ser três e passa a ser um só e aquilo que era três passa a ser apenas DIA.

2. De que forma vocês chegaram ao curso de artes da UFPB?
Nos conhecemos estudando artes visuais na UFPB onde pudemos direcionar e aprimorar aquilo que conhecíamos sobre Arte. Apenas Américo concluiu o curso. Daniel optou por estudar Design Gráfico em outra instituição e Izaac, já com formação em Marketing e propaganda migrou para o curso de Comunicação em Mídias Digitais e cursa em paralelo uma Pós-Graduação em Criação Multimídia.

3. Como vocês enxergam hoje o hibridismo da/na arte contemporânea?
Vemos isto como uma ampliação de possibilidades. A oportunidade de infinitas experimentações.

4. Como vocês definem sua atuação nas artes visuais?
Atuamos de forma intensa! Praticamente todos os dias nós estamos desenhando, mesmo que não haja sequer intenção de mostrar essa produção. Usamos quase sempre os meios de produção rápida, e o desenho é a melhor deles! De forma rápida, objetiva e eficiente podemos produzir a representação visual da mensagem que temos a transmitir, quer seja um ponto de vista singular de músicas que gostamos de ouvir ou mesmo o ritmos do momento ou ainda figurações de grandes obras do cinema mundial sob uma ótica diferente.

5. Vocês acham que há espaço/lugar/apoio para os jovens artistas?
Não! Tem muita gente de qualidade por aí que a acaba desistindo da arte pra se sentar atrás de balcões e birôs por que essa seria a única forma de colocar comida em casa, enquanto figuras carimbadas de um circuito pré-estabelecido por amizades e indicações faz com que os artistas de sempre vençam os editais e ocupem as galerias. É triste, mas essa é a realidade em que vivemos e são raras as oportunidades em que jovens artistas conseguem seu lugar ao sol. Este é o cenário encontrado em instituições específicas da Arte. Sem muitas opções para desaguar sua produção o jovem artista caminha pelas margens destes ambientes, inserindo-se em circuitos alternativos ou mostrando seu trabalho na maior e mais acessível galeria existente, a rua.

6. Que artistas ou movimentos dão a vocês mais influências ou agradam mais?
São inúmeros os artistas dos quais admiramos o trabalho, porém são influências diretas em nossos trabalhos, a street art, o design de cartazes, os grafites, entre os diversos ilustradores e animadores contemporâneos. A estética de um filme ou uma animação, o desenvolvimento de personagens para jogos ou mesmos a narrativa visual das páginas de um quadrinho compõe a nossa extensa lista de referências.