quinta-feira, outubro 18, 2007

arte, tecnologia e abraham palatnik

A Fapern-Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte está realizando, com a participação de instituições de ensino e pesquisa, a Semana Potiguar da Ciência e Tecnologia 2007. Na imensa programação, que vai de agosto a outubro em Natal e outras cidades, acontece o 1º Prêmio Abraham Palatnik de Artes Visuais com o objetivo de incentivar o surgimento de jovens talentos e o uso de novas tecnologias nesta área artística.

Neste caso, há dois fatos que merecem destaque. Primeiro, a justa homenagem ao artista potiguar Palatnik, pai da arte cinética no Brasil e um dos pioneiros no uso da tecnologia a serviço das artes. Segundo, o envolvimento de um órgão (Fapern) nas ações de incentivo à cultura. Isso, por si, já aguçou meu interesse e curiosidade ao ser convidado para compor o júri de seleção e premiação deste Salão ao lado dos artistas Paulo Bruscky e Vicente Vitoriano, de Recife e Natal, respectivamente.

Ao todo, 73 artistas se inscreveram no Salão somando 123 peças participantes. E, embora este seja considerado um número pequeno comparado a outros salões de arte, deve-se dizer que o evento era aberto apenas a artistas nascidos ou residentes no Rio Grande do Norte. Na verdade, era voltado a descobrir talentos locais.

Sobre a avaliação do Salão, o artista Paulo Bruscky, considerado um dos principais nomes da vanguarda nordestina e na utilização de novos meios (arte correio, áudio-arte, videoarte, artdoor e xerografia/faxarte etc) nas artes visuais, afirma que “Todo primeiro salão, como toda primeira investida em qualquer área, tem que ser feito para se analisar, corrigir. Apenas, eu esperava, por ser em homenagem a Abraham Palatnik, que houvesse mais obras na proposta de arte multimídia. Apesar de algumas obras salvarem o Salão, o que predominou foi, como sempre, pintura e desenho, que são as categorias mais tradicionais. Mas a idéia é muito boa. E acho que devia ter um seminário para discutir o regulamento, por exemplo. Chamar os artistas, acatar sugestões”.

Mas, o Salão não apresenta surpresas. Hoje isso é difícil por que o próprio salão já tem uma natureza de apresentar “novidades”. Todos querendo fazer uma obra “original”, mas acabam fazendo uma coisa de 30 ou 50 anos atrás. O que há, na verdade, são obras mais bem elaboradas e peças ícones de estilos, de categorias. Para Paulo Bruscky, deveria haver algumas alterações no formato do Salão. Por exemplo, a concessão de bolsas ao invés de prêmio aquisição. “O artista receberia a bolsa durante um ano, para executar um trabalho. E para um artista novo, um projeto de pesquisa é bom por que ele vai desenvolver o trabalho de forma sistemática. E, ao final, está garantida uma exposição”.

A Fapern, ao criar o Prêmio Abraham Palatnik, teve a sorte de poder usar esse nome como uma referência. E, se nacionalizar o evento, vai atingir todo o Brasil indicando que se trata de mídia contemporânea, tecnologia e arte, ciência e artes plásticas. Mas perde visibilidade se ficar restrito ao local ou ser apenas um salão convencional de novos. Ora, todos esperamos que os salões de arte sejam espaços democráticos para todos os iniciantes, mas também sujeito a confusões na cabeça dos iniciantes. Daí, a necessidade de incluir um seminário e, também, a presença de artistas convidados (incluindo uma sala especial em homenagem ao próprio Palatnik) que trabalhem hoje com novas tecnologias nas artes visuais, para orientar a realização de workshops com artistas locais.

Não estamos mais isolados. Cidades como Recife, João Pessoa e Natal tem a mesma realidade nas artes visuais. Claro, vivemos distantes do poder econômico. Mas nunca da possibilidade de criar. Nos anos 70, o Nordeste já produzia arte de vanguarda. Basta conferir as ações do NAC, da UFPB, com a participação de importantes artistas do eixo Rio-São Paulo e as experimentações com arte correio, vídeoarte, xerox arte, livro de artista, poema processo etc.

Segundo Paulo Bruscky, “No Nordeste, nos antecipamos à Internet. A arte correio era uma grande rede que foi incluindo outros meios – telegrama, telex, fax e computador – e essa rede é a Internet de hoje. Esse movimento democratizou o acesso à arte, os espaços foram criados, mas a crítica nacional e internacional passou em brancas nuvens. As próprias instituições negaram, por que não eram obras comerciais. Na arte correio, por exemplo, a obra é a informação, a troca de informação. Ora, o que é a arte? A arte é a vida. Eu fui visitar Robert Rehfeldt, na antiga Alemanha Oriental, e ele me disse algo importante: ‘No seu país, você foi preso por ser considerado comunista. No meu país, eu fui preso por ser considerado democrata. E, no entanto, durante esses dez anos de correspondência e de troca de trabalhos, nós fazemos um trabalho similar’. O que é esse conceito político? A questão da estética, da política, do poder, em relação aos conceitos de arte, da própria vida. Depois eu voltei para Amsterdã, onde morava, e passei dias pensando nisso: o que é o conceito? Tudo em que você se baseia, principalmente na área cultural, na artística, é no conceito. Os artistas existem apenas para mostrar uma coisa que não é nem necessária, mas a gente tem que mostrar. Wladimir Dias Pino tem uma frase genial: ‘O olho é responsável pelo que vê’. E nós assimilamos através da visão, cerca de 80% do que vem aos sentidos”.

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